ARTIGO: ESG e tecnologia para o crescimento do Agro

Gabriel Perussolo
 

Maurício Moraes


Por Maurício Moraes* e Gabriel Perussolo** 

O Brasil se consolidou como o maior exportador mundial do segmento de alimentos industrializados em volume, superando grandes players como os Estados Unidos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). A marca de 64,7 milhões de toneladas de exportados em 2023 contribuiu para a balança comercial nacional, gerou receitas e fortaleceu a posição do país no mercado global de alimentos, impulsionando a competitividade e desempenhando um papel crucial na criação de empregos e no desenvolvimento do agronegócio brasileiro. São mais de 38 mil empresas atuando neste ramo, que possibilitam cerca de 2 milhões de postos de trabalhos diretos, além de 10 milhões indiretos.  

O setor vem batendo recordes: ao contrário do decréscimo registrado na participação geral da Indústria de Transformação na economia nos últimos anos, que encolheu 1,2% de janeiro a setembro do ano passado, o setor de alimentos atingiu um crescimento de 3,9%. Mesmo com o impacto das enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em maio, que atingiu fortemente a economia deste importante estado produtor, o resultado expressivo da indústria de alimentos promete gerar contribuir positivamente com o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, especialmente levando em conta as principais commodities exportadas: proteína animal, açúcar, óleo de soja, suco de laranja, produtos derivados de leite, cafés e biscoitos de trigo.  

Para manter o ritmo, é importante considerar questões relacionadas à sustentabilidade, padrões de produção éticos e impactos ambientais que garantam uma abordagem equilibrada e responsável nesse processo. O tema foi destaque, inclusive, durante a COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no final de 2023. Em relatório conjunto, ficou definida a redução gradual do uso de combustíveis fósseis, a fim de diminuir a emissão de gases de efeito estufa e promover a sustentabilidade. 

A 27ª CEO Survey, pesquisa realizada com mais de 4,7 mil líderes em todo o mundo, incluindo o Brasil, sobre as perspectivas para o crescimento da economia, ameaças, prioridades estratégicas e investimentos, mostra que a disrupção tecnológica e as mudanças climáticas em aceleração continuam a forçar os CEOs a se adaptarem rapidamente. Conforme os dados, 89% dos executivos brasileiros do setor do agronegócio têm esforços em andamento ou já concluídos para melhorar a eficiência energética e inovar em produtos e serviços com baixo impacto climático. 

De acordo com a pesquisa, 57% dos CEOs do agronegócio no país estão implementando iniciativas para aperfeiçoar ou requalificar a força de trabalho como preparação para mudanças nos modelos de negócios relacionadas ao clima. A adoção de práticas ESG é um dos caminhos para quem quer se diferenciar nesse mercado competitivo e criar bases sólidas de crescimento.  

A disrupção tecnológica, por sua vez, é uma megatendência com implicações sistêmicas e existenciais para as empresas do agronegócio. A CEO Survey traz, por exemplo, que a IA generativa é capaz de mudar completamente a operação das empresas. Os líderes do setor se mostram, em geral, mais preocupados do que a média brasileira com os riscos relacionados à tecnologia. O principal temor é com a cibersegurança, mencionada por 80% deles. A divulgação de desinformação vem em segundo lugar, no mesmo patamar que a média no país. 

A adoção dessa tecnologia no agronegócio e a urgente adaptação da estratégia para lidar com a inovação que ela representa não é uma realidade nova. Em outubro de 2023, a PwC divulgou o Índice Transformação Digital Brasil, que mediu o progresso da transformação digital nas organizações e demonstrou a maturidade ainda baixa para a área nas empresas do Agronegócio do país – na avaliação, elas alcançaram média 3, metade da escala, que vai de 1 a 6. Na busca por atender essas prioridades, é importante rever o planejamento estratégico, com decisões orientadas por dados e processos digitais que aumentem a eficiência operacional e as possibilidades de atuação - uma jornada que deve ser contínua.  

Resultados da CEO Survey mostram que os entrevistados do setor do agronegócio brasileiro entendem o ambiente regulatório (66%), a instabilidade na cadeia de abastecimento (63%) e a falta de competências na força de trabalho (60%) como os principais inibidores para a reinvenção dos negócios. CEOs e suas equipes de liderança precisam ter uma clara compreensão de como negócios, projetos ou outros investimentos na indústria de alimentos criam valor – e estar dispostos a tomar decisões difíceis, seja realocando recursos de negócios legados ou redefinindo os limites setoriais da empresa e os parceiros do ecossistema. Estes três fatores, contudo, certamente sofreram reavaliações com a nova situação do Rio Grande do Sul, principalmente no quesito instabilidade na cadeia de abastecimento, que foi bastante prejudicada com as chuvas. 

Aos líderes do Agronegócio, é crucial alinhar prioridades e necessidades de reinvenção, além de fomentar uma cultura de confiança para que os funcionários se sintam seguros em propor novas ideias e maneiras mais eficientes de trabalho. E, nessa corrida por explorar o potencial da IA generativa, é importante não ignorar as possíveis armadilhas, como a rápida evolução desta tecnologia. O segredo está em avaliar todas as dimensões de risco da IA generativa, começando pela estratégia, e saber como elas afetarão cada elo da cadeia dentro do ecossistema. Por isso, definir prioridades claras baseadas em riscos e criar controles internos rigorosos em torno da privacidade de dados e da ampliação do conhecimento dos modelos de IA farão com que os líderes do setor possam extrair seus benefícios e promover o crescimento sustentável a seus negócios. 

* Sócio da PwC Brasil e líder do setor de Agribusiness

** Sócio da PwC Brasil

 

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